Ao nascer começamos a envelhecer já sentenciados a morrer condenados a um corpo aprisionados dele cuidar, dele dá vida e viver
Crescemos, adulto ficamos Cada idade com sua face Cada um com seus defeitos e talentos Cada um com suas alegrias e tormentos
Cada um em berços distintos nascemos Cada um caminhos escolhemos Nos encontraremos ou nos perderemos venceremos ou perderemos
O tempo vivos passando se ocupando de viver ou se ocupando de morrer passando pela vida, ou ela por passando
Uma sensação que tudo é imortal que nada mudará, que nada atingirá e o tempo passará, no mesmo passo mas a vida não segue o mesmo compasso
A idade muda de face, A mente muda os passos O corpo muda seu tempo Seus limites, suas vontade e capacidades
Ele não se submete a reformas muito menos a restaurações Por mais que se maquie, reflete a idade Pode aparentar, mas nunca rejuvenescerá
Não se sujeita, nem a trocas, nem empréstimos Suas alegrias serão suas, seus sofrimentos também Sua ignorância assim como sua sabedoria Seu analfabetismo ou sua intelectualidade
Somente se eternizará o que você deixar o que construiu, o que plantou o que procriou todo conhecimento que passou, fazendo sua parte Senão, inexoravelmente, a morte tudo vai levar
"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas,
rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos.
Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos,
normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos.
Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger
e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”,
onde “tiramos fatos à limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que
brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas,
detalhes gramaticais sutis,
ou sobre as diferentes traduções da Bíblia.
Não quero ficar explicando porque gosto da
Nova Versão Internacional das Escrituras,
só porque há um grupo que a considera herética.
Minha resposta será curta e delicada:
- Gosto, e ponto final!
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
“As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação
aos medianos se estou ou não perdendo a fé,
porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes;
a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis,
Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge
de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja
andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca
será perda de tempo." Texto de Ricardo Gondim