AMARRAS (A vida de nós mesmos) (Onorato Ferreira Lima Filho)
Nas amarras da vida, aprisionamos nossos corações, Nas amarras da vida, aprisionamos nossas emoções; Nas amarras da vida, aprisionamos nossas razões. Quantas vezes nos debatemos para nos libertarmos, Quantas vezes encontramos subterfúgios em busca do amor, Quantas vezes a vida nos afronta e nos dá amores perdidos., fragilizados, inconsistentes e vazios.
Quantas vezes essa mesma vida nos arrebata dos amores certos, Tornando vazios nossos corações... Faz-nos buscá-lo ao âmago e confundir nossos desejos, Tornando-nos seres perplexos, perdidos, castigados.,
Ás penas desse sentimento. Aí, tornamos pedra bruta nossas emoções, Amarramos nossos corações com amarras de aço., Aprisionamos nossas emoções nos calabouços de nossa alma., E passamos a viver exclusivamente sob o domínio da razão. Razão esta que nos faz frios, Razão esta que nos aprisiona no nosso próprio “eu" .,
Então, deixamos de amar, Passamos a ter medo do amor., Passamos pela vida como sombras de aves vagantes., Nômades, transeuntes de uma vida sem sentido. E, quando pensamos tardias nossa repudia, Nossos olhos ainda nos despertam.,
Fazendo-nos buscar na redoma de nossa alma, O refúgio lúcido do amor divino., E então, lá no pélago de nossa vida, ainda vemos uma luz., A luz dos olhos da vida que se faz em corpo, Cobrindo este corpo com as vestes talares do juízo. E, nos seus braços alongados (da justiça), Traz em sua destra o gesto e o tom ecoante da liberdade.,
Nos libertando, ao final, de nossas amarras. Então,
volvemos a tez para o infinito de nossa estrada., E descobrimos que a vida é apenas o condutor de nossa existência É apenas a vida de nossa própria vida, Que caminha, aprisionada ou livre, porém, Sujeita às intempéries e infortúnios do pulsar involuntário, dessa sofrida alma, a qual, um dia se libertará dessas amarras e caminhará sob a plenitude da liberdade para amar.
"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas,
rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos.
Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos,
normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos.
Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger
e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”,
onde “tiramos fatos à limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que
brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas,
detalhes gramaticais sutis,
ou sobre as diferentes traduções da Bíblia.
Não quero ficar explicando porque gosto da
Nova Versão Internacional das Escrituras,
só porque há um grupo que a considera herética.
Minha resposta será curta e delicada:
- Gosto, e ponto final!
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
“As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação
aos medianos se estou ou não perdendo a fé,
porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes;
a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis,
Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge
de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja
andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca
será perda de tempo." Texto de Ricardo Gondim