Rascunhos em Vida

 

segunda-feira, 6 de julho de 2009


QUANDO OS AMANTES DORMEM...
“Amar é ser o guardião do sonho alheio”
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Quando as pessoas se amam e querem se amar,selam um pacto: dormir juntas.
E quando se fala "dormir juntos"o sentido é duplo:
significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne,mas, depois,na lansidão do pós-gozo,
deixar os corpos lado a lado,à deriva, dormindo, talvez.
Na verdade, os amantes,quando são amantes mesmo,mesmo enquanto dormem se amam.
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Agora ouça esses versos de Aragóncantados por Ferat: "Durante o tempo que você quiser
Nós dormiremos juntos". E penso. É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente.
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A mesma ambigüidade:dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos,ou então, dormir/morrer de amor juntos. Deve ser por causa distoque os franceses chamam oorgasmo de "pequena morte".Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo através da morte,como Inês de Castro e D. Pedro,que foram sepultados um diante do outro,para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.
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Amor: um projeto de vida, um projeto de morte.Se numa noite dessaso vento da insônia soprar em suas frestas, repare no corpo dormindo despojado ao seu lado.Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade.Mais que ver as águas de um rio represadogerando uma usina de sonhos,é ver uma semente na noite pedindo um guardião.
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Pode ser banal, mas é isto:amar é ser o guardião do sonho alheio.
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Os surrealistas diziam:
o poeta enquanto dorme trabalha.Pois os amantes enquanto dormem, se amam.Se amam inconscientemente,quando seus desejos enlaçam raízes e seivas.O pé de um toca o pé do outro,a mão espalmada corre sobre o lençol e toca ocorpo alheio e, dormindo, se abraçam animados.Quando isso ocorre, pode ter vários significados.Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro:"Ajude-me a atravessar esse sonho", ou:"Venha, sonhe esse sonho comigo,é bonito demais".E o outro, às vezes, sem se mexer,parte em seu socorro.É que certos sonhos,sobretudo os de quem ama,não cabe num só corpo.
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Transbordam os poros da noite epedem cumplicidade.E se há um pesadelo, aí um se agarra ao tronco do outro na crispação do instante,e o corpo do parceiro é bóia na escuridão. Por isto, no ritual do casamento,quando o sacerdote indagase os que se amam sabem que terão que se socorrer na saúde e na doença, na opulência e na miséria etc...deveria se inserir um tópico a mais e advertir: ... amar é ser cúmplice do sonho alheio.
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Passar a metade da vida dormindo ao lado do outro.Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata,50 anos - bodas de ouro,75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro,e não sabem com que o outro sonha. E há quem passe uma tarde,uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e sabe seus sonhos para sempre. Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam.Estranhos rumores percorrem o sonho alheio.
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Não é o rugir do tigre pelas brenhas.Não é o bater das ondas na enseada.Nem os pássaros perfurando a madrugada.São os sonhos dos amantes em plena elaboração.E se numa noite dessas o vento da insônia de novo soprar em suas frestas,olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos.Quando se compra um apartamento novo,nas alturas, alguns compram lunetas e ficam vasculhando a vida alheia.Mas para ouvir o ruído dos sonhos basta abrir os ouvidos na escuridão.
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Os sonhos pulsam na madrugada. Era uma vez um chinês que toda vez que sonhava com sua amada acordava perfumado.Deve ser por isso que,ainda hoje, o quarto dos amantes amanhece com um perfume de almíscar,lavanda e alfazema.E é comum achar troféus dos sonhos ao pé da cama de quem ama.
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Quando se abre a pálpebra do dia,aí pode-se ver um unicórnio de ouro e uma coros de rubis. À noite os sonhos dos amantes se cristalizame de dia se liqüefazem em beijos e lágrimas.
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Quem ama diz boa-noite como quem abre fecha a porta de um jardim.Não apenas como quem viaja,
mas como quem vai para a colheita.
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Quando se ama,acontece de um habitar o sonho do outro,e fecundá-lo
(Affonso Romano de Sant'Anna)


Rascunhado por Rascunhos em Vida às 11:58

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Navego em um mar de emoções... e vou deixando um rascunho enquanto viva... Passar a limpo? Nem pensar... Agradeço tua visita. Paz profunda!

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  Tempo que Foge

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo."
Texto de Ricardo Gondim

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